Era um domingo à tarde. O ano 2019. A pandemia ainda não havia chegado ninguém pensava que algo assim pudesse acontecer. Uma jovem moça chegou à portaria da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) Estado de Minas Gerais, onde eu trabalhava e perguntou se podia conhecer o campus. Ela estava num carro preto juntamente com sua família. Parou a alguns metros da cancela que dava acesso ao campus e pediu para entrar. Eu cumprindo as normas de segurança da instituição, expliquei os procedimentos já dizendo que nos fins de semana o acesso só era permitido a pé. Ela no banco de traz do carro bem do lado do motorista contra argumentou dizendo que já havia conhecido outra universidade e só faltava a UFOP.
Em tom calmo, palavras suaves e bem dirigidas, disse que estava em dúvida em qual instituição cursaria “Arquitetura e Urbanismo” seu sonho prestes a realizar. Sorridente me confidenciou que havia se saído muito bem no Enem e graças a Deus – palavras dela- só teria que decidir o local para fazer seu sonho acontecer.
Enquanto eu falava com ela, alguns carros chegavam precisando de alguma informação, pedia licença e me dirigia a eles para atendê-los. Quando liberei um desses carros para entrar, ela sutilmente questionou o porquê dele poder entrar e outras pessoas não. Expliquei que se tratava de um aluno que estudava no ICEB (Instituto de Ciências Exatas e Biológicas), que precisava ir a um laboratório no prédio do seu curso, e que o liberei assim que apresentou a carteirinha de estudante, porém eu já sabia que todo o fim de semana aquele estudante vinha para realizar alguma atividade no local em que se dirigia naquela hora. Ela deixou escapar um sorriso de contentamento e disse:
– Muito interessante isso.
Eu já estava inclinado a deixa-la entrar. Naquela mesma semana havia visto um cartaz nas instalações da UFOP, com os dizeres “venha estudar a UFOP”, pensei rápido e então falei para ela onde funcionava o curso de Arquitetura e Urbanismo. O prédio da Escola de Minas onde funciona o curso ficava bem próximo e visível da portaria principal. Na mesma hora ela se ergueu um pouco mais e notei certo júbilo. Respondi todas as perguntas que me fizera e depois permite que entrasse. Dei orientações de como proceder no deslocamento pelo campus. Expliquei que em cada prédio tinha uma placa indicativa, e permiti que fossem ao prédio da Escola de Minas para conhecerem onde era sediado o curso que ela faria. Pedi que passassem primeiro por lá. Liguei para o porteiro da Escola de Minas orientando a deixar que acessassem o hall de entrada para verem os murais com as fotos antigas e atuais dos concluintes dos cursos ali existentes, e ele assim o fez.
Minutos depois eles seguiram e completaram a volta no campus, sob os olhares atentos do vigilante motorizado, que contatei expondo a situação.
Quando estavam chegando à saída, fui até eles para perguntarem se tudo havia corrido bem e todos disseram que sim. No carro tinha quatro pessoas, a moça que veio ver a UFOP, uma irmã, o pai e a mãe, todos me dirigiram palavras que me deixaram até sem ação naquela hora.
Elogiaram o meu atendimento, enalteceram a instituição na organização interna, falaram da beleza de Ouro Preto, me pediram informações sobre o Pico Itacolomy e depois respondi mais algumas perguntas e então foram embora. Estavam já alguns dias em viagem. Disseram que haviam passado na UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais - e retornariam para Cuiabá capital do Mato Grosso onde residiam.
Lembrei-me desse fato ao recordar-me de outro. O dia em que subindo a Rua do ouvidor em Ouro Preto, ofereci meus braços a uma mulher que subia em direção a Praça Tiradentes. Deslocava-se segurando nas paredes das casas devido a seu calçado inapropriado para o piso ouro-pretano. Amparei-a oferecendo apoio em meus braços e fui subindo com ela. Pelo sotaque e pelas palavras de despedida deduzi que fosse francesa, algumas palavras saiam em português. Apontou para feirinha de pedra sabão, Igreja São Francisco de Assis, e eu sorrindo repetia os nomes para ela, sem saber o teor das referências.
Chegando à Praça Tiradentes apontei para a rua direita, para que soubesse que era para lá que eu estava indo, mas ela sorriu e apontou para o Museu da Inconfidência.
“Merci” foi o que ela disse já se dirigindo na direção do museu. Eu deduzi que fosse um agradecimento, sorri fiz aquele sinal característico de Tchau e fui embora.
Esses dois acontecimentos me fizeram concluir que há uma transitoriedade no que somos ou representamos num dado momento de nossa vida.
Vejamos:
O fato de ter recebido bem a moça que estava em dúvida se estudaria ou não na UFOP, pode ter sido um fator concludente na decisão dela. O ambiente aqui é bom, ela pode ter pensado assim. Quanto à grandeza da instituição ela já chegou ciente, afinal a UFOP foi uma das escolhidas.
Naquela hora eu era a instituição, se eu fosse mal educado ela levaria essa imagem para a cidade dela, penso que ao chegar a Cuiabá tenha dito:
A UFOP é um lugar aconchegante e de pessoas comprometidas com instituição.
O mesmo pensamento me veio à mente referente à mulher que subia a Rua Claudio Manuel. Quando chegar a França, pois suponho que seja de lá, vai dizer que no Brasil, as pessoas são cordiais e acolhedoras, tudo por que num momento de dificuldade ela foi ajudada, e nem precisou pedir ajuda.
Tem horas que somos o mundo, temos sobre nós uma grande responsabilidade. E às vezes nem percebemos quão grande são esses momentos, carregamos num gesto uma nação inteira e simplesmente por fazer o que deve ser feito.
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