O ex-presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica, renunciou ao cargo de senador nesta terça-feira (20/10). Eleito em 2014, o político da Frente Ampla de Esquerda, já havia anunciado, no mês passado, que renunciaria. Em um discurso emocionado, ele disse que foi obrigado a deixar o cargo por causa da pandemia do novo coronavírus e de uma doença autoimune crônica chamada Síndrome de Strauss, que o coloca no grupo de risco para a Covid-19.
“Ser senador é falar com as pessoas e andar por toda a parte, mas me sinto ameaçado por todos os lados, pela velhice e por uma doença imunológica crônica”, afirmou. No seu último discurso antes de renunciar, Pepe Mujica também dirigiu aos jovens: "Triunfar na vida não é ganhar. Triunfar na vida é levantar e recomeçar cada vez que se cai". Ao terminar o discurso, Mujica foi aplaudido de pé no senado Uruguaio. O líder de esquerda afirmou também que não abandonará a política, mas apenas que sairá da "primeira fila".
Popularmente conhecido como "O Presidente Mais Pobre do Mundo", Mujica raramente recusou convites para participar de eventos oficiais. Em 2016, esteve em Ouro Preto (MG) onde recebeu, na Praça Tiradentes, no Dia 21 de Abril, a Medalha Grande Colar, maior comenda concedida a personalidades e entidades que contribuíram para o desenvolvimento de Minas Gerais, do Brasil e da humanidade. O ex-presidente do Uruguai, também foi orador 65ª edição do evento dedicado ao Mártir da Inconfidência.
Leia abaixo, um trecho do pronunciamento de José Pepe Mujica, durante solenidade da Medalha da Inconfidência, em Ouro Preto-MG, há 4 anos:
“Mineiros e mineiras, a vida me ensinou algumas coisas. Os únicos derrotados são os que deixam de lutar. Mas vocês têm de saber que não há um prêmio no final do caminho. O prêmio é o caminho mesmo, é o andar mesmo. Nossa luta é muito velha. São falsos os términos. Esquerda e direita são inventos da Revolução Francesa. Na realidade, são caras permanentes da condição humana, como as caras de uma moeda, e fluem e refluem permanentemente na história. E penso que talvez seja uma luta eterna com fluxos e refluxos, com pontos de partida, com quedas e voltar-se a levantar. Há que se aprender que, na vida, as causas nobres necessitam de coragem sempre para voltar e começar. Eu sou do sul, venho do sul e represento o sul, os eternos esquecidos do planeta. Ser do sul não é uma posição geográfica, é um resultado histórico. E venho ao Brasil, tenho cultivado amigos no Brasil, porque a América será livre com a Amazônia ou não será. Porque é enorme o conhecimento e ciência que nos tiraram o mundo central. Porque perdemos nossos melhores filhos, porque lhes pagam melhores salários no mundo central, porque estamos entrando em uma outra era, globalizada, de comunicações, onde a fronteira é mais de negócio do que de amparo e justiça aos povos. E todos sabemos que a democracia nunca será perfeita, e não pode ser, porque é uma construção humana e os seres humanos não são deuses. Não. Por isso, porque somos diferentes, porque nascemos em lugares diferentes, porque pertencemos a classes diferentes, porque geneticamente temos matizes em nossos programas. Porque nossa história pessoal nos dá ou nos tira pelo que foi. Os homens são semelhantes, mas cada um é particular, diferente, e como não somos perfeitos, a sociedade tem e terá sempre conflitos. Não podemos viver sozinhos, somos sociais. Ninguém pode viver sozinho”.
Mujica já havia renunciado ao cargo de senador em 2018. Na época, ele alegou cansaço, no entanto, voltou a disputar e venceu o pleito no ano seguinte, voltando ao Senado.
Aos 85 anos, José Mujica é considerado uma das personalidades mais carismáticas e respeitadas da esquerda latino-americana. Na juventude, participou de movimento de liberação nacional e foi preso pela ditadura militar por 15 anos. Enquanto presidente do Uruguai, deixou um legado de medidas progressistas como o casamento gay, o aborto, além da regulação da produção da maconha.
Enquanto líder de Estado, ficou mundialmente conhecido por dispensar vantagens do cargo, doar quase todo o seu salário e levar uma vida quase franciscana, em uma pequena fazenda nos arredores de Montevidéu.
Nos últimos anos, Mujica se mostrou preocupado com os rumos da esquerda na América Latina e a ascensão de nomes de extrema direita como o presidente Jair Bolsonaro. Mujica também esteve no Brasil em 2028, onde visitou Luís Inácio Lula da Silva, quando o ex-presidente estava preso em Curitiba.
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