#Sobrevivemos: Mineiros compartilham histórias de luta contra a Covid-19
Foram dois meses de apuração, em meio a relatos e escutas com auxílio das macrorregionais estaduais e assessorias de unidades de saúde da capital e do interior, por intermédio das jornalistas Fabiana Gatti e Márcia França. Crédito – Reprodução/Agência Minas.
Na guerra invisível contra o coronavírus, os sobreviventes têm muito a contar. Sintomas, medos, angústia, assistência, fé e gratidão por ter sobrevivido à covid-19 estão nas histórias de cada pessoa que se recuperou da doença. De Norte a Sul, Leste a Oeste de Minas Gerais, há guerreiros dispostos a compartilhar sua vivência e contribuir para o combate ao vírus no estado.
Para somar forças nessa guerra que ainda não acabou, o Governo de Minas convidou esses sobreviventes para contar suas experiências. Desse trabalho, que demandou dois meses de apuração, em meio a relatos e escutas com auxílio das macrorregionais estaduais e assessorias de unidades de Saúde da capital e interior, nasceu o projeto #Sobrevivemosmg: um hotsite da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) com relatos emocionantes de pessoas que sobreviveram à doença.
“As histórias por trás dos números nos ajudam a enfrentar essa guerra invisível com esperança e atentos aos cuidados que devem continuar, ainda que os indicadores apontem para a possibilidade de queda na transmissão do vírus em Minas”, comenta o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, para quem o projeto é visto como mais uma importante ferramenta de comunicação no enfrentamento da covid-19 em Minas.
Nas redes sociais
A plataforma, lançada nesta terça-feira (29/9) e divulgada nas redes sociais da SES e do governo, conta com textos e vídeos feitos pelos próprios sobreviventes, além de entrevistas de especialistas sobre as sequelas que o coronavírus pode causar. O objetivo é que, a cada semana, dois relatos em vídeo de sobreviventes da covid-19 sejam divulgados nas redes sociais e na página do projeto.
As histórias são compartilhadas com os mineiros no momento em que Minas Gerais já soma mais de 200 mil recuperados da enfermidade e indicadores apontam para possibilidade de queda na transmissão da doença. Com sintomas leves ou graves, os entrevistados relembram os dias de angústia, os medos, a fé e a assistência que receberam nas unidades de terapia do Sistema Único de Saúde (SUS-MG) e na rede privada, o carinho de enfermeiros, de técnicos de Enfermagem e de médicos.
São pessoas que receberam alta sob aplausos de profissionais da Saúde ou que em casa conseguiram resistir à doença. Alguns ficaram com sequelas, emocional ou física, mas agradecem a todo momento por estarem vivos para poder contar essa história e se juntar ao Governo de Minas na luta contra o vírus.
O primeiro relato é de Alcino Pereira, de 82 anos, e Ondina de Moura, de 80, que foram contaminados pelo vírus. Casados há 62 anos, os dois são da cidade de Pouso Alegre e precisaram de internação para vencer o novo coronavírus.
“Não se descuidem. Quando sentirem qualquer sintoma, procurem recurso logo, antes que passe o tempo”
(Por Luciane Evans)
Na saída do hospital Samuel Libânio, da cidade de Pouso Alegre, Alcino Pereira da Silva, de 82 anos, esperava pela sua mulher, Ondina de Moura Bueno da Silva, de 80. Era final de abril, e Ondina recebia a alta do hospital poucos dias depois de Alcino. Os dois, casados há 62 anos, foram contaminados pela covid-19 e sobreviveram ao vírus, para a alegria dos cinco filhos, 16 netos e sete bisnetos.
Foi no dia 26 de março que Alcino e Ondina, moradores da cidade de Senador Amaral, começaram a sentir os primeiros sintomas da covid-19, como fraqueza e febre. A grande família, na qual há profissionais de saúde, ficou em alerta e foi monitorando o estado dos dois. “A oxigenação do meu pai caiu um pouco. Ele estava fraco, com coriza e olhos lacrimejando. Chamamos a ambulância para ele”, recorda Maria Helena Silva Rezende, filha do casal.
Alcino foi internado no Hospital Samuel Libânio e, no mesmo dia, o teste de covid-19 para os dois idosos deu positivo. Ele ficou dois dias na UTI e se recuperou. Em isolamento, Ondina foi enfraquecendo. “Teve perda de apetite, queda de pressão e foi levada para o hospital”, conta a filha. O pulmão dos dois estava comprometido. Alcino, inclusive, teve enfisema pulmonar.
A família ficou apreensiva, mas, felizmente, o casal sobreviveu. Alcino recebeu alta primeiro e foi buscar Ondina, que chegou a ficar 11 dias internada. Quando os dois voltaram para casa foi uma festa. “Graças a Deus estamos aqui, e está tudo bem”, orgulha-se Ondina. Alcino diz ser preciso estar alerta a qualquer sintoma.
“As pessoas que sentirem esses pequenos problemas devem se cuidar porque o negócio é perigoso”, avisa, acrescentando que os dois ficaram o tempo que foi preciso na internação e saíram sãos e salvos do hospital. “Não se descuidem. Quando sentirem qualquer sintoma, procurem recurso logo, antes que passe o tempo”, aconselha.
As sequelas que o novo coronavírus pode trazer
Medo, preconceito, ansiedade e o sentimento de que a morte nunca esteve tão perto. A covid-19 não termina com a alta médica. Além dos males físicos, o novo coronavírus pode trazer a reboque males neurológicos e para a saúde mental. Para muitos sobreviventes, o pós-covid-19 não é fácil emocionalmente, além de uma nova vida que se apresenta, algumas vezes com sequelas, há traumas, medo de se contaminar novamente e o julgamento de conhecidos.
“Para muitos, há o processo de luto, principalmente se o vírus trouxe a perda de uma funcionalidade. Há os que saem do CTI e se tornam dependentes de alguém, sendo que antes tinha uma vida independente”, comenta a psicóloga Gilcléria da Silva Ferreira, que atua na linha de frente da covid-19, dentro do Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte —unidade referência em Minas para o tratamento de pessoas contaminadas pelo novo coronavírus.
Gilcléria, junto a outras três psicólogas, trabalha a saúde mental dos pacientes internados no CTI e na enfermaria do Eduardo de Menezes, além de dar suporte aos familiares desses pacientes. “Fazemos um trabalho sobre esse adoecimento, internação e a situação de morte iminente. ” A psicóloga reforça que o SUS historicamente, nesses 30 anos de existência, foi se humanizando nos atendimentos, tendo uma das conquistas deste processo a presença dos acompanhantes durante o tratamento, contribuindo na recuperação.
“No entanto, com a covid-19, o paciente não tem mais as visitas nem acompanhantes, e passa a se sentir muito sozinho”, diz. A sensação de solidão, inclusive, é acentuada com o fato de os profissionais da saúde estarem paramentados, sem que seja possível reconhecer suas feições.
Uma das formas de amenizar essa solidão, quando possível, é a chamada telefônica com os familiares. “Há uma ansiedade do paciente ver seus parentes e saber se eles estão bem. Quando há essas visitas virtuais, eles se sentem mais seguros para o tratamento”, comenta Gilcléria, dizendo que, para os familiares, também há o suporte psicológico.
Preconceitos
“Muitos familiares temem o preconceito, principalmente, porque os conhecidos, sabendo que estão com parentes internados, tendem a se afastar. Explicamos a eles que esse afastamento é pelo receio do contágio. Há ainda o medo da perda do parente ou de se estar contaminado também”, diz Gilcléria, explicando que, no caso do óbito, os parentes também recebem atendimento psicológico.
O preconceito, inclusive, é um dos pontos mais levantados pelos sobreviventes no pós-covid-19. Principalmente nas cidades do interior, de acordo com relatos, as pessoas temem contar sobre o ocorrido com medo da reação dos moradores da cidade.
Além do acompanhamento psicológico durante a internação, há no SUS o atendimento na Atenção Primária, que deve ser procurado, de acordo com Gilcléria, assim que o paciente sentir a necessidade de um apoio psicológico. “Em universidades e em algumas clínicas, há voluntários fazendo esse trabalho”, diz, lembrando que o apoio dos amigos e familiares é fundamental para uma boa recuperação dos pacientes. Em casos de sobreviventes que desenvolveram algum sintoma físico ou emocional após infectados deve-se procurar atendimento especializado.
Sequelas neurológicas
Há sobreviventes da covid-19 que relatam sequelas neurológicas, como dificuldades de locomoção, de linguagem ou até de memória. Segundo explica Maíra Cardoso Aspahan, neurologista dos hospitais Eduardo de Menezes e Madre Teresa, há a síndrome dos pacientes críticos que, geralmente, ocorre naqueles que sofreram uma infecção grave e precisaram de intubação, medicações e ventilação mecânica durante um longo período.
“Esses pacientes podem ter uma perda de massa muscular e sequelas neurológicas associadas, como dificuldade de andar. Não é algo específico da covid-19, mas uma síndrome que acomete enfermos que passaram pela UTI por muitos dias”, esclarece, apontando que outros estudos mostram a possibilidade de haver também problemas cognitivos.
“Quanto mais tempo um paciente grave da covid-19 fica na UTI, com confusão mental durante a internação, aumenta o risco de um desfecho cognitivo ruim. Isso é acentuado no contexto da pandemia. Há a falta de interação humana. Essa pessoa não recebe visitas, não vê as feições dos profissionais que lhe atende, além de ser visto como um risco sanitário".
Com isso, é possível, segundo Maíra, que haja sequelas como comprometimento da memória, dificuldades de desenvolver habilidades cotidianas e até de concentração durante conversas simples. “É importantíssimo que durante a reabilitação, esse paciente se sinta acolhido por seus familiares e esteja em um ambiente que se sinta bem, com pessoas pacientes para esse processo”, enfatiza Maíra. Ela reforça que o processo de reabilitação é longo e, em muitos casos, será necessário o acompanhamento de profissionais de diversas áreas, como fisioterapia, fonoaudiologia, psiquiatria, neurologia, entre outros.
Para participar
Para aumentar essa rede, o projeto #Sobrevivemosmg convida interessados em compartilhar sua história a mandar, pelo e-mail [email protected], relatos em vídeos para serem divulgados no hotsite e redes sociais da SES-MG.
Orientações
- Grave o vídeo com o seu relato com o celular na horizontal (deitado);
- A distância entre o celular e a pessoa filmada deverá ser de um braço esticado;
- A imagem deve ser gravada da cintura para cima;
- Procure lugares silenciosos para uma melhor qualidade do áudio;
- Antes de gravar, desligue a internet do celular ou coloque no modo não perturbe para que mensagens não interrompam a filmagem;
- Procure lugares iluminados, mas fique atento para o posicionamento correto da câmera: a luz deve estar de frente para a pessoa filmada;
- Seja objetivo em seu relato. O vídeo não pode ultrapassar 3 minutos de duração;
- O vídeo poderá ser enviado por e-mail. Qualquer dúvida, ligue para: (31) 3916-0617 ou 3916-0616.

Crédito - SES-MG/Divulgação
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