Leia “Politicamente Correto” na Coluna de Valdete Braga

Valdete faz uma análise dos termos "preconceituosos" do cotidiano

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Por Tino Ansaloni Publicado em 04/12/2014, 10:18 - Atualizado em 22/02/2021, 15:27
Por Valdete Braga Vivemos a era do politicamente correto. Não posso falar negro nem preto, tem de ser afro descendente. Não posso falar gordo, tem de ser acima do peso. Não sou mais uma mulher baixinha, estou abaixo da estatura convencional das brasileiras, e assim por diante. Convenciona-se o que pode e o que não pode ser dito, como se as palavras fossem mais importantes do que as atitudes. Existem exageros que precisam ser evitados, é lógico. Preconceito é outra coisa. Mas do que adianta eu usar a expressão afro descendente para não “humilhar” a pessoa que tem a pele escura e evitar me sentar perto dela no ônibus? E daí eu dizer que fulana está gordinha, se a palavra vier recheada de carinho? É verdade que palavra tem peso, mas também é verdade que atitudes valem mais do que palavras. Muitas vezes o tom é que é preconceituoso (ou não) e não a palavra em si. Já vi mais de uma vez parentes (pais, inclusive) chamarem o filho de “meu neguinho” com tanto carinho que a receptividade da criança é imediata, devolvendo o carinho e se sentindo amada, sem nem saber se ela é preta, branca ou amarela. Tenho um cunhado que só me chama de “baixinha”, e eu que sou adulta sinto o carinho que ele coloca na palavra e me sinto super bem. Da mesma forma existe o “só podia ser loura” quando uma mulher comete uma gafe, e isso não é racismo nem preconceito, é piada. Será que é? Tudo depende do contexto e da intenção. “Sai prá lá, negão”, “ô lugar que só dá preto”, “está mais gorda do que uma porca”, “aquela baixinha metida”, e outros absurdos que nem combinam com o século XXI, têm de ser rechaçados mesmo. Frases assim, carregadas de preconceito e ignorância, sejam escritas ou faladas, merecem repúdio, não há dúvidas. O que não pode acontecer é nos deixarmos levar pela onda do politicamente correto e passarmos a enxergar maldade em tudo. Às vezes, fazendo isto, estamos criando o preconceito onde ele não existe. Já aconteceu de eu estar com uma amiga e alguém pedir informação sobre onde era uma loja. A loja ficava há poucos metros, em uma galeria com várias outras, e várias pessoas nas portas. Minha amiga respondeu naturalmente: “é aquela onde está aquela moça preta na porta”. Assim que a pessoa saiu, ela me disse que falou sem pensar e se será que tinha “pegado mal”. Respondi que não, que a resposta dela foi a mais óbvia possível. Havia várias portas e várias pessoas. A única “afro descendente” estava exatamente na porta na loja em questão. A cor preta foi a referência, dita em um tom normal (porque É normal) e com a naturalidade que a situação pedia. Se ela tivesse dito “aquela moça de trança” ou “aquela moça de sapato de salto” não teria problema algum. Por que a cor da pele deveria ter? Milhões de exemplos poderiam ser dados: “minha prima é aquela gordinha”, “deixei com um jovem negro, na recepção”, etc, etc, etc. Frases comuns, ditas em tons comuns, sem nenhuma carga negativa, que não raro são deturpadas para denegrir a pessoa que falou, como se ela tivesse dito com outra intenção. Enquanto isso, alguns usam os termos absolutamente “corretos” ao se referir à pessoa, mas no momento do tratamento, a coisa muda. Isso é muito pior. Vivemos de prática e não de teorias.

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