Fatos e Fotos de Ouro Preto-MG: Da Coluna Saldanha Marinho ao Monumento a Tiradentes

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Por Tino Ansaloni Publicado em 15/04/2013, 12:56 - Atualizado em 15/04/2013, 13:43
Bernardo Andrade Curta no www.facebook.com/jornalvozativa Siga no twitter.com/jornalvozativa No dia 03 de abril de 1867, foi lançada a pedra fundamental do primeiro monumento erigido em homenagem aos inconfidentes de 1789, a Coluna dos Inconfidentes ou Coluna Saldanha Marinho, na então chamada Praça da Independência. Os movimentos para a construção do monumento começaram em novembro do ano anterior, quando o projeto foi proposto por uma comissão de ouro-pretanos e iniciou-se uma subscrição popular para angariar recursos para a obra. Durante o ano de 1867, a peça “A Inconfidência” também foi encenada na Casa de Ópera de Ouro Preto com o mesmo propósito. Elaborado pelo engenheiro-chefe da Província, Henrique Gerber, o monumento era singelo, mas carregado de simbolismo. Em primeiro lugar, foi construído no mesmo local onde ficara exposta a cabeça do Tiradentes em 1792 – em frente ao Palácio dos Governadores e não no centro da Praça como hoje. Seu pedestal guardava uma urna contendo objetos e documentos pertencentes aos inconfidentes. Essa urna foi encerrada pelo Presidente da Província de Minas Gerais, Joaquim Saldanha Marinho, cujo sobrenome passou a denominar o monumento anos mais tarde. Maçom de relevo – assim como se acredita terem sido boa parte dos inconfidentes – Saldanha Marinho se valeu para tanto de uma colher de pedreiro, uma trolha e um malhete, instrumentos altamente significativos dentro da Maçonaria. Sobre essa “base cívica” se ergueria o pilar da nacionalidade, representado pela própria Coluna. As placas comemorativas que ornavam o monumento, com seus belos dizeres, deixavam claro o caráter cívico que ele deveria evocar: “À memória dos inconfidentes de 1789 levanta este singelo monumento a gratidão nacional para perpetuar no coração das gerações vindouras os nomes e sacrifícios de” (seguem os nomes dos inconfidentes); “Seos nomes infamados pelo despotismo, rehabilita-os a Liberdade; sagra-os eternos a veneração e respeito dos homens livres de todas as nações”. A reabilitação da memória sobre a Inconfidência Mineira começara alguns anos antes, promovida em grande parte pelos republicanos. Nesse contexto, o distanciamento histórico cada vez maior em relação ao fato e a necessidade de criação de uma identidade nacional possibilitam que o ideário sobre o movimento se modifique gradativamente ainda dentro do próprio Império. Os “revoltosos” passam a ser os “revolucionários”, e os inconfidentes começam a ser vistos como mártires da Nação Brasileira. Após a Proclamação da República em 1889, tem início a ressignificação dos símbolos nacionais. Os inconfidentes são declarados heróis da República no ano seguinte, mas as homenagens passam a se concentrar na figura do Tiradentes, o protomártir por excelência já que foi o único a morrer na forca. Mais do que isso, sua mitificação o transformará no “cristo da República”, como bem sugere a iconografia sobre o movimento produzida a partir de então. Nesse contexto, a Coluna dos Inconfidentes passa a ser vista como um monumento simples demais para homenagear um movimento que adquiria crescente importância cívica. Além disso, naquele momento a manutenção de Ouro Preto como capital da Província vinha sendo duramente atacada, dando origem a diversos projetos de modernização e valorização da cidade – a própria ideia de se construir um monumento mais imponente na Praça era um deles . Assim, a Lei Estadual nº 03, de 1891, autorizou o Presidente da Província, Cesário Alvim, a despender até 200:000$000 (duzentos contos de réis) na construção de um majestoso memorial no centro da Praça em honra ao centenário da execução de Tiradentes, no dia 21 de abril do ano seguinte. No entanto, a ideia de substituir a Coluna por outro monumento, por mais imponente que ele fosse, não agradou a todos. Várias foram as críticas, inclusive pela imprensa, gerando acalorados debates. Isso acabou atrasando o processo, adiado também por questões orçamentárias. Mas prevaleceu a decisão inicial e logo foi aberto um concurso público para escolha do projeto do novo memorial. O vencedor desistiu da empreitada e o contrato acabou sendo arrematado pelo escultor italiano Virgilio Cestari, o segundo colocado. As obras começaram em 1893, e a inauguração ocorreu no dia 21 de abril do ano seguinte. Em forma de obelisco, o novo monumento ainda homenageava os inconfidentes em suas placas comemorativas, mas a figura no topo era a do Tiradentes. De costas para o Palácio (Coroa) e de frente para a Casa de Câmara e Cadeia (povo), seu simbolismo também era forte, porém mais plástico e idealizado do que o da “sagrada” Coluna, com um herói altivo e à moda do Cristo martirizado da República. Sua grandiosidade faz a bela estátua de bronze de mais de três metros parecer pequena quando vista do chão. A Coluna Saldanha Marinho permaneceu ao lado do novo monumento até o dia 17 de abril daquele ano, quando finalmente foi desmontada. Esse episódio gerou grande comoção na cidade e várias críticas na imprensa mineira. As peças da coluna desmontada foram então levadas para o almoxarifado da Estação Ferroviária, onde permaneceram até 1937. Nesse ano, o Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Ouro Preto, Vicente Racciopi, conseguiu levá-la para a Casa de Gonzaga, onde permaneceu até 1942. Nessa época, a peça foi doada à capital Belo Horizonte para ser instalada na Praça 21 de abril, hoje Praça Tiradentes, entre as Avenidas Afonso Pena e Brasil. Porém, isso nunca ocorreu e os restos da Coluna ficaram esquecidos entre entulhos num dos almoxarifados da Central do Brasil na Avenida dos Andradas por muitos anos. Eles só seriam redescobertos pela Secretaria de Cultura de Belo Horizonte em 1980, que então entrou em contato com a administração de Ouro Preto e providenciou o retorno do que restava do monumento à sua terra natal. O prefeito de Ouro Preto na época, Alberto Caram, e seu Secretário de Cultura e Turismo, Angelo Oswaldo, providenciaram o restauro da Coluna, o que foi feito pelo mestre de ofício José Domingos com base em fotografias de época, uma vez que restavam apenas o fuste e as placas comemorativas do monumento original – a base e o capitel tiveram de ser refeitos. Instalado na recém-reformada Praça Amadeu Barbosa ou da Barra, o monumento foi inaugurado em 21 de abril de 1981, em cerimônia que contou com a presença do general João Batista Figueiredo, Presidente da República, e pelo governador de Minas, Francelino Pereira. Entretanto, com o passar dos anos, as árvores que circundavam a Coluna cresceram e passaram a ofuscar o monumento, prejudicando a sua visibilidade. No final de 2008, a Coluna foi finalmente transferida pela Prefeitura para um local de maior destaque, na rotatória central da Praça Cesário Alvim ou da Estação – seu antigo pedestal na Praça da Barra hoje sustenta um cruzeiro de pedra, ao lado do ponto de ônibus. O monumento em homenagem ao tricentenário de fundação da cidade que havia sido instalado na Praça da Estação em 1998, e motivo de algumas controvérsias, foi removido para a Rodovia do Contorno “Rodrigo Melo Franco de Andrade”, no trevo de acesso à nova Santa Casa de Misericórdia. Bernardo Andrade Conheça mais sobre esse e outros temas interessantes em: http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/fotografico_docs/photo.php?lid=29584 (fotografia original em alta resolução e com mais informações sobre a Coluna) http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/fotografico_docs/photo.php?lid=30036 (fotografia original da cerimônia de inauguração da Estátua Tiradentes) http://arquivopublicoop.blogspot.com.br/2012/04/inconfidencia-mineira-herois-e.html http://comendaliberdadeecidadania.com.br/memoria/ed2.pdf CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da república no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. FURTADO, João Pinto. O manto de Penélope: história, mito e memória da Inconfidência Mineira de 1788-9. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. Diário de Minas, Ouro Preto, Edição 207, 04/04/1867, p.1. A Província de Minas, Ouro Preto, Edição 97, 24/04/1882, p.1.

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