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Censura e Política pautam início do Seminário do Cinema Brasileiro

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Por Tino Ansaloni Publicado em 16/06/2013, 11:19 - Atualizado em 16/06/2013, 11:32
Foto: Cine Vila é um dos palcos da 8ª Mostra CineOP em Ouro Preto-MG Crédito: Tino Ansaloni “Hoje, órgãos públicos de cinema tem ideias e exigências tão arbitrárias sobre o que deve ser o cinema brasileiro quanto a ditadura”, afirmou o homenageado Walter Lima Jr" Teve início nessa sexta-feira o 8o Seminário do Cinema Brasileiro: Fatos e Memória, espaço único e consolidado que a CineOP abre anualmente para a discussão sobre a história e preservação do cinema brasileiro, além das aplicações do cinema na educação, que reúne centenas de profissionais de todo o país, além de convidados internacionais. A palestra inaugural contou com a presença do convidado internacional Ray Edmondson, na mesa “Balanço de um Campo: A Arquivística Audiovisual”, onde lançou a edição brasileira de “Audiovisual Archiving: Philosophy and Principles”, uma iniciativa da CineOP e da ABPA – Associação Brasileira de Preservação Audiovisual. Segundo Carlos Roberto de Souza, vice-presidente da ABPA e responsável pela tradução da edição brasileira, “apesar de nossa edição vir a público 15 anos depois do paperoriginal, o livro é de extrema atualidade e importância. O conhecimento que ele tem de aspectos da história do cinema se aplicam perfeitamente ao que vivemos aqui”. A palestra de Ray Edmondson versou sobre diversas questões relacionadas à preservação audiovisual, da política de acervos ao intercâmbio internacional, tocando em questões que há muito vem sendo discutidas nos encontros anuais da CineOP, encontrando eco junto ao público presente. “Não faz sentido preservação sem acesso. A preservação é fundamental para dar acesso, é o acesso que justifica a existência de uma obra e justifica os gastos públicos para preservá-la”, afirmou Edmondson em um desses momentos. O pesquisador tratou também da preservação nessa época de novas tecnologias, um dos vieses discutidos pela Temática Preservação desta 8a CineOP. “Nenhuma obra pode ser entendida separada do contexto no qual foi criada. Na minha opinião, ouvir o que foi gravado numa determinada tecnologia faz toda a diferença e a experiência tátil e estética é muito diferente. Ouvir programas dos anos 30 em iPad e TV digital é muito diferente. Cria uma falsa impressão da experiência original”, explicou Edmondson. Outra mesa muito aguardada no primeiro dia foi “Memória e Consciência”, com os cineastas Francisco Ramalho Jr, Maurice Capovilla, Nelson Pereira dos Santos e o homenageado desta 8a CineOP, Walter Lima Jr, acompanhados da pesquisadora Leonor Souza Pinto, que discutiram as condições de realização do cinema brasileiro durante a Ditadura Militar. Leonor abriu o debate apresentando um contexto histórico das ações da censura na produção cinematográfica brasileira do período, tema que acabou pautando os demais depoimentos. “O que salvou o cinema brasileiro é que a censura, os cortes, aconteciam nas cópias de distribuição, e não no negativo. Com isso, salvaram-se os negativos originais, o que permitiu a remontagem dos filmes originais. Mas sempre há exceções, como no caso de El Justicero, de Nelson Pereira dos Santos, que será exibido na programação da CineOP, cujos negativos foram confiscado. O filme só existe hoje graças a uma cópia 16mm que estava em uma cinemateca italiana”, revela Leonor. Os diretores presentes na mesa relataram diversas histórias pessoais da relação com a censura na época e de como se davam as negociações sobre cada filme. Nelson Pereira divertiu o público presente trazendo curiosidades sobre os pareceres da censura para alguns de seus filmes. “Entre os argumentos para censurar Rio 40 Graus, a censura dizia que tal temperatura nunca havia sido registrada no Rio. Já em relação a El Justicero, afirmava que o filme abordava críticas sociais que claramente não se aplicavam ao governo atual, segundo eles”. Nelson Pereira aproveitou para expandir a questão para além do período inicial da Ditadura Militar: “A questão da censura não tem data, ela existe desde que o Brasil nasceu como nação e continua até hoje, de maneira mais sutil”. Essa afirmação ecoou nas falas dos demais cineastas. Segundo Francisco Ramalho Jr, “há hoje uma retração do movimento libertário. Se fizermos um filme com conteúdo muito erótico, ele não será exibido, não terá espaço. E há a censura econômica. Dependendo da temática de seu filme, você não conseguirá patrocínio para realizá-lo”. O homenageado Walter Lima Jr seguiu na mesma linha. “Hoje, órgãos públicos de cinema tem ideias e exigências tão arbitrárias sobre o que deve ser o cinema brasileiro quanto a ditadura. Um pitching é um verdadeiro pelotão de fuzilamento, que censura ideias como se censuravam filmes na década de 60”, acusou o diretor. Neste sábado, a programação do Seminário do Cinema Brasileiro foca na questão da educação audiovisual e de preservação, os debates “Ensino de Preservação Audiovisual”, com os professores João Luiz Vieira (UFF) e Mônica Kornis (FGV), e “Cinema e Educação: Experiências Criativas”, com César Leite (UNESP), Débora Nakache (Universidad de Buenos Aires – Argentina), Margareth Diniz (UFOP) e Moira Toledo (FAAP). Completa ainda a programação do sábado a mesa “Relatos de Acervos”, que permitirá a troca de experiência entre diversos acervos, com a presença de representantes do CRAv – Centro de Referência Audiovisual (MG), da Cinemateca Capitólio (RS) e do Arquivo Público Mineiro (MG), com a participação também do Gerente Geral do CTAv – Centro Técnico Audiovisual, Roberval Duarte. A programação de filmes deste sábado terá a exibição da cópia restaurada de Bonequinha de Seda, de Oduvaldo Vianna; do clássico El Justicero, de Nelson Pereira dos Santos; do documentário contemporâneo Mazzaropi, de Celso Sabadin; e do polêmico A Primeira Vez do Cinema Brasileiro, de Bruno Graziano, Denise Godinho e Hugo Moura, sobre os bastidores do primeiro filme de sexo explícito brasileiro, que levou mais de 5 milhões de pessoas ao cinema; além de curtas e médias metragens. No domingo, a programação de debates do Seminário do Cinema Brasileiro será intensa, com quatro mesas – “Cinema, Política, Estética e Pedagogia”, “A Preservação de Acervos de Televisão”, “A Pesquisa de Materiais Audiovisuais”, “Por Dentro dos Filmes” –, além do aguardado encontro da ABPA com a Cinemateca Brasileira, com a participação de Ismail Xavier, presidente do Conselho da Cinemateca Brasileira, e Hernani Heffner, presidente da ABPA. Os filmes, históricos e contemporâneos, também estarão presentes na programação de domingo. A Mostra Histórica terá a Trilogia de Terror, de Ozualdo Candeias, Luis Sérgio Person e José Mojica Marins, e Bebel, Garota Propaganda, de Maurice Capovilla. Já na programação contemporânea, teremos a pré-estreia nacional de Cine Holliúdy, de Halder Gomes, além dos curtas da Mostra Horizontes. Fonte: Árvore Comunicação

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