Fatos e Fotos de Ouro Preto – A cidade Monumento Nacional e os aviões do Almirante Protógenes Guimarães por Bernardo A. B. Andrade

Por Tino Ansaloni Publicado em 26/03/2013, 16:20 - Atualizado em 26/03/2013, 18:28

Curta no www.facebook.com/jornalvozativa Siga no twitter.com/jornalvozativa Foto-Sobrevoo do centro de Ouro Preto pelos aviões do Almirante Protógenes Guimarães, Ministro da Marinha, durante as cerimônias de elevação da cidade a Monumento Nacional Luiz Fontana, 13/07/1933 Fonte: Acervo IFAC/UFOP Veja mais fotos antigas no final do texto Bernardo A. B. Andrade Historiador e Ouro-pretano No dia 12 de julho de 1933, foi oficializado o Decreto Federal nº 22.928 que elevou Ouro Preto a Monumento Nacional brasileiro.No dia seguinte, grandes celebrações tiveram lugar na cidade, especialmente na Praça Tiradentes e nas matrizes do Pilar e do Antônio Dias. Representando o presidente Getúlio Vargas estava seu Ministro da Marinha, almirante Protógenes Guimarães¹ , que na ocasião também recebeu o título de “Cidadão de Ouro Preto”, entregue pelo prefeito Dr. João Velloso. A placa fundida de canhão em honra ao Visconde de Ouro Preto citada na edição passada² desta coluna foi instalada no dia anterior ao decreto, e pode ser entendida como o início das cerimônias de comemoração do mesmo. Como homenagem à Cidade Monumento Nacional e para incrementar o evento, o almirante trouxe alguns dos biplanos da nascente Aviação Naval Brasileira, que surpreenderam todos com seus rasantes sobre Ouro Preto. Esses aviões usaram como base o antigo Campo de Aviação que existia no Morro do Cruzeiro, onde hoje fica o Campus da UFOP. Aquele fato tão inusitado deslumbrou a maioria da população, mas também causou certo alvoroço em alguns moradores. Assustados com a visão daqueles “bichos” e a barulheira que faziam, muitos buscaram abrigo onde podiam, até mesmo em galinheiros – como bem relata Alcy Araújo em seu saboroso depoimento (ver referências no final do artigo). A ereção de Ouro Preto a Monumento Nacional era a grande conquista do movimento de revalorização da cidade iniciado durante as comemorações do bicentenário de Vila Rica, em 1911. Esse movimento ganhou força após a “redescoberta” da cidade por intelectuais brasileiros, especialmente os modernistas, que viam nas Minas do Período Colonial o berço da nacionalidade do país, sendo a antiga Vila Rica um de seus principais baluartes. Era preciso salvá-la do abandono e do esquecimento. Essa visão seria adotada pelo Estado após a Revolução de 1930, e marcaria profundamente a longa presidência de Getúlio Vargas. Nesse contexto, o título de Monumento Nacional foi uma das primeiras ações da política nacionalista da República Nova, mais tarde incrementada pelo Estado Novo com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-SPHAN (atual IPHAN). Ouro Preto foi tombada como Patrimônio Nacional em 1938, tornando-se um dos principais laboratórios de políticas e ações patrimoniais do SPHAN desde então. Grandes transformações seriam realizadas na cidade, especialmente na parte arquitetônica, o que daria origem a incontáveis controvérsias, impossíveis de serem tratadas num artigo tão curto – mas que certamente voltarão à cena em outras edições desta coluna. No entanto, apesar dos dilemas em torno da atuação do órgão na cidade, e das críticas que ela suscitou e ainda suscita, de certa maneira foram suas ações que propiciaram a recuperação econômica de Ouro Preto,conciliando-a ao reconhecimento, valorização e manutenção do rico patrimônio cultural pelo qual a cidade é hoje mundialmente conhecida. Do contrário, é bem provável que as feições da antiga Vila Rica sucumbissem ao “progressismo” da segunda metade do século XX, que descaracterizou muitas das antigas vilas e povoados originados no Brasil Colonial, tais como Juiz de Fora, Serro, Itabirito, Ouro Branco e Conselheiro Lafaiete, dentre outras. ¹ Natural de Florianópolis/SC, Protógenes Pereira Guimarães (1876-1938) tornou-se conhecido por seu envolvimento nos movimentos tenentistas da década de 1920. Sua participação na Revolução de 1930 lhe valeu o posto de Ministro da Marinha, cargo que ocupou entre 1931 e 1935. Nesse último ano, foi eleito governador do Rio de Janeiro, ficando no posto até a instauração do Estado Novo, em 1937. ² Inaugurada no dia 11 de junho de 1933, essa placa era uma homenagem da Marinha de Guerra ao Visconde de Ouro Preto, Ministro da Marinha de 1866 a 1868, e foi fundida com metal de um dos canhões da Fragata “Amazonas” - participante da famosa Batalha do Riachuelo, principal batalha naval da Guerra do Paraguai. Já em agosto de 1966, a Marinha fez nova homenagem ao Visconde, dessa vez ao Centenário de sua posse como ministro, inaugurando outra placa, logo abaixo da primeira e que também explica o real alcance da homenagem anterior. Instaladas no muro de pedra aos pés da rua Henry Gorceix ou rua Nova, ao lado da Escola de Minas, essas placas hoje são praticamente desconhecidas da maioria da população e dos visitantes da cidade. Conheça mais sobre esse e outros temas interessantes em: http://memoria.bn.br/DocReader/hotpage/hotpageBN.aspx?bib=175102&pagfis=8078&pesq=&esrc=s&url=http://memoria.bn.br/docreader(Jornal “A Batalha”, edição de 11 de julho de 1933, que também apresenta na íntegra a redação do título dado ao almirante) Depoimento de Alcy Araújo, presente no documentário Reminiscências, Ouro Preto Filmes – 2007. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Z_VqwMlhkDA http://pt.wikipedia.org/wiki/Prot%C3%B3genes_Guimar%C3%A3es http://cpdoc.fgv.br/mosaico/?q=artigo/viagens-ao-passado-os-intelectuais-e-sacraliza%C3%A7%C3%A3o-de-ouro-preto MENICONI, Rodrigo O. de M. A construção de uma cidade Monumento: o caso de Ouro Preto. Dissertação de mestrado apresentada à Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG, 1999. Disponível em http://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=3&ved=0CDwQFjAC&url=http%3A%2F%2Fwww.bibliotecadigital.ufmg.br%2Fdspace%2Fbitstream%2Fhandle%2F1843%2FBUOS-8GCML9%2F20120206161341361.pdf%3Fsequence%3D1&ei=vjlPUafXPIqB0AHrj4HYAg&usg=AFQjCNFfojpkBt0iooKkwRVQcIzgPs_IDA&sig2=yKL-JTS1vLhccumrHyDzIA&bvm=bv.44158598,d.dmQ