“O vandalismo em Mariana-MG e em outras cidades históricas” por Elisabeth Camilo

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Por Tino Ansaloni Publicado em 28/05/2012, 18:34 - Atualizado em 02/06/2012, 10:34
Quando analisamos eventos que vão contra todas as políticas de preservação de nossa memória cultural, incluindo o patrimônio físico de nossas cidades, entre elas a falta de respeito que pessoas de fora têm para com aquilo que nossas raízes mantiveram para nós, precisamos encontrar caminhos para compreender o conceito de ingratidão e desrespeito. Em um bom jogo de ideias, é como se chegássemos à casa de uma pessoa que nos abriu a porta e nos ofereceu um copo de água e aproveitamos para quebrar todos os copos. Total ingratidão é o que vemos quando ações de vândalos como a de Mariana ocorrem. Ouro Preto é reconhecidamente uma cidade universitária cujos alunos se misturam o tempo todo com a população. Ninguém fica excluído, em uma vila ou região, todos começam a fazer parte da vida social local. Mariana também já passa pelo mesmo processo, desde a implantação do ICHS e agora com a implantação dos cursos do ICSA, totalizando sete cursos: letras, história, pedagogia, jornalismo, administração, economia e serviço social. Quando assistimos tristemente comportamentos negativos aqui e ali que expõem a falta de carinho e de cuidado com a coisa que pertence a todos e cujos praticantes são exatamente alunos universitários, a extensão do problema é muito mais danosa. Analisemos as situações: um estudante universitário, de universidade pública, só o é porque existem cidadãos que pagam impostos altíssimos no país, cuja uma fração se reverte à educação. Alunos entram na universidade e se formam às custas do dinheiro público e deviam, por consequência, retornar este valor ao público que o patrocina, através de trabalhos, atividades voluntárias ou outras ações. Aqui, nestas duas cidades históricas, o que vemos é o contrário. Com poucas exceções, universitários da Ufop promovem festas que tiram o sono da população, praticam trotes que muitas vezes prejudicam os próprios colegas e vandalizam as cidades que lhes abrem as portas com sorridentes boas vindas. Devia ser o contrário: o abraço devia ser, como de origem, reflexivo, recíproco. A cidade abre os braços e o aluno se aconchega. Talvez falte à maioria dos estudantes universitários uma formação que recebemos quando começamos a entender a vida. Nossos avós e bisavós receberem de seus pais a missão de preservar para seus filhos (nossos pais) a memória cultural que pertence a todos nós. Eles, nossos pais, guardaram para nós o mesmo legado e nós mantemos para nossos filhos e netos a riquíssima cultura local que permite que Ouro Preto e Mariana sejam tesouros de Minas e do Brasil. Não preservamos para o vazio: tudo foi e ainda é preservado para o futuro, que, principalmente alunos de jornalismo podem inferir, será muito mais tecnológico do que o cenário atual. Um chafariz amanhã será tão precioso que obrigatoriamente todos teremos que ler “As Cidades Invisíveis” , de Ítalo Calvino. É muito assustador acompanhar os noticiários sobre vandalismos diversos: pontes derrubadas, cruzes destruídas, paredes pichadas, grutas corrompidas, história roubada. Tudo isso já seria horrível se partisse de alguém sem cultura, imaginem quando essas ações nascem de acadêmicos, de universitários, que discutem dentro de salas de aula, o papel da preservação, a sociologia da inclusão, a antropologia pura. Parece que a corrupção chegou às mentes dos jovens universitáriose isso nos torna estarrecidos. Estudantes de Ouro Preto, de Mariana, de Sabará, de Congonhas, de Parati, de qualquer cidade do mundo, precisam lutar contra a destruição patrimonial e ambiental e não fazer parte da grande massa que só pensa em destruir o que os outros guardaram com unhas e dentes, sem qualquer tecnologia. Em cidades tombadas pelo patrimônio, a educacional patrimonial começa nas primeiras séries do ensino fundamental, em torno de seis e sete anos de idade. Seria muito lógico que os universitários que aqui chegassem, compreendem o nosso papel de guardiães de tesouros do mundo. Imprimimos nossa revolta contra o evento de destruição da luminária central da Praça da Sé, antigo cemitério da primeira vila de Minas Gerais. Tal como ela, existe outra em Ouro Preto, na Praça de Marília. Há história, há romantismo, há fantasias em torno dos espectros que a luz emite. Não pertence a ninguém, pertence a todos. Esperamos que a Universidade Federal de Ouro Preto tome atitudes imediatas contra qualquer tipo de vandalismo e perturbação na cidade e que, como a escola fundamental, inclua em seu currículo a disciplina obrigatória “educação patrimonial”. Vai ser bom para a própria Ufop, que, devido a atitudes irresponsáveis de seus alunos, têm agora a reputação manchada como instituição que não orienta seus alunos sobre como conviver em sociedades que sobrevivem de turismo e de memória culturais. Elisabeth Camilo

Um Comentário

  1. daniel 29/05/2012 em 12:48- Responder

    Preocupemos com nosso maior patrimônio: nossos filhos. Irão se juntar a esses no futuro, quando por direito entrarem na UFOP. E irão, mesmo sem querer, entrar nesse bolo maldito, e tomar a fama de estudantes delinquentes, maconheiros, beberrões e vadios, que só se prestam para rock e open bar. Ou a UFOP reconhece sua culpa e sua omissão durante todos esses anos, e trata a questão seriamente dando limites e punindo os infratores, ou a fama de delinquência dos formandos da UFOP nos RHs das grandes empresas será parte do curriculum dos nossos filhos.

    Muitos já estão sofrendo essas consequencias: vem para estudar, são excluídos do direito a moradia estudantil, a família gasta o que não pode para mantê-los aqui, e ainda depois de formados têm de carregar esse rótulo maldito. Já se foi o tempo que ser formado na UFOP era garantia de bom emprego.

    Isto está virando uma bola de neve e denigre a imagem da instituição.
    A situação precisa chegar rapidamente aos ouvidos da Dona Lula, lá em Brasília. Um excelente administrador no cargo de reitor, que visivelmente perdeu o controle dessa bandalheira que tomou conta da universidade.

    Acorda, reitor! Chega de passar a mão na cabeça de quem perturba o sossego alheio e depreda o patrimônio público!

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