O Império Roxo e Amarelo – Uma Experiência em Equipe

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Por Tino Ansaloni Publicado em 26/03/2012, 23:41 - Atualizado em 20/05/2012, 15:35
Ainda ruminando a ideia do tour pelas nossas cidades históricas e mesmo pelas não históricas, vale a pena reportar a força que as cores roxo e amarelo têm nas fotografias de nossas paisagens, durante os meses de março e abril. O problema é que quase sempre vemos e não damos conta da beleza de árvores, trepadeiras e gramíneas nestes tons em quase todos os espaços urbanos e periféricos de nossas cidades. A formulação do conceito de “muito comum” ao olhar se transforma em outro conceito, a saber, o do “sem importância” para muitas pessoas. Cientificamente, não sabemos explicar as razões de o roxo surgir junto do amarelo, mas a natureza nos manda uma mensagem: plante flores e árvores que florescem com estas cores em seu jardim e, nestes meses, terá a conjugação perfeita de cores. Saímos para verificar a solidez desta combinação colorida e nos extasiamos diante da exuberância dela em áreas cultivadas, praças, jardins e nas matas onde a mãe natureza se incumbe de fazer germinar flores de todos os tipos, nestas duas cores em um mesmo período sazonal. A caminho de Passagem de Mariana, as matas de recheiam de boungainvilles, quaresmeiras e plantas trepadeiras e rasteiras nas duas margens da estrada que corta o bairro Alto da Cruz, privilegiado por duas belas quaresmeiras, entre as quais podemos ver uma imensa massa de boungainvilles oferecendo sombra à única obra feminina de Aleijadinho. Neste trajeto, as flores amarelas em profusão pedem licença aos nossos olhares para se exibirem, nos convidando para nos tornarmos “voyeurs” de Deus. Em Mariana, os passageiros esperam ônibus na Praça sob o roxo intenso das quaresmeiras, uma das quais se torna telhado para o abrigo dos próprios passageiros. O jardim de Mariana exibe as flores amarelas e roxas como um presente para quem descansa à tarde no espaço reservado para o namoro, para o diálogo de amigos ou apenas para a reflexão sobre qualquer tema. Em OuroPreto, avistamos de um bairro a outro, sem precisar nos movimentarmos, as manchas coloridas em meio ao casario e às igrejas. Descendo para o Antônio Dias, a árvore violeta se destaca perto da Igreja de São Francisco de Assis. No Largo Frei Vicente Botelho, no jardim cheio de palmeiras e pequenos arvoredos, o lampião parece esculpido pelo ouro de uma árvore única, mas também há uma trilha de flores roxas e miúdas que direcionam nossos olhos para outros mundos, macros e micros, que antes pareciam não existir quando éramos apenas transeuntes e não observadores. Na velha estrada para Saramenha, conhecida como “Volta do Vento” e que exibe belo volume de mata atlântica, as flores despontam em muros e ribanceiras, nos lembrando que próximo a ambientes de morte e de dor, há também o renascimento contínuo da poesia. A Vila dos Engenheiros parece um quadro pintado por inspirado artista, com boungainvilles cochichando com o céu e com o solo, vestindo a grama de uma roupa especial. O roxo e o amarelo, em várias tonalidades, dão à tela tom sobre tom. No Campus da Ufop, as quaresmeiras contrastam com a Serra do Espinhaço, criando um casamento do relevo tão distante com a cor tão próxima. O tapete da grama não quer esconder as flores rasteiras do império sazonal. A estudante lê um livro de matemática e, perdida no mundo da razão, nem percebe a emoção de nossa subjetividade... A Rua Pandiá Calógeras parece ter sido ornamentada por mãos misteriosas de flores variadas. Próxima à Igreja do Pilar, árvore magnífica desafia o ouro da igreja, iluminando o espaço e o chão de pepitas mais do que douradas. Junto às flores, salpicando a paisagem, goiabas amarelinhas disputam um espaço na tela divina. Chama a nossa atenção, todavia, uma família muito especial: a das quaresmeiras, assim denominadas por florescerem no período da quaresma. Em vários tons, de roxo a rosa, indo de árvores colossais e praticamente cobertas apenas de flores, a espécies menores que cobrem nossos campos de cerrados. Durante nossa observação, as pétalas caem suavemente e servem de alimentos para as formigas que buscam o suculento manjar. Manjar - esta é a palavra certa para os chefs que fazem saladas de pétalas de flores e sabem o quanto saborosas são as pétalas destas quaresmeiras em flor. Licores, saladas, crepes e geleias são produtos de luxo produzidos a partir dessas árvores também conhecidas como “manacás da serra”. A presença deste império de duas cores nos leva às festas religiosas que se aproximam. As boungainvilles podem ser usadas o ano inteiro, mesmo após estarem secas, porque continuam sempre vivas e belas nas jarras e vasos. Em analogia, devemos pensar no amor de Deus o ano inteiro. As quaresmeiras são consideradas pela maioria da população como flores da quaresma, mas deviam também ser lembradas como flores que prenunciam a Páscoa. Vale lembrar que os nossos altares se vestem de roxo durante a quaresma e no sábado da aleluia são desvestidos e mostram todo o ouro dos altares. A procissão de Páscoa, que corta a nossa cidade, deixa a cor amarela em exaltação, em alegria. Talvez seja por estes motivos que as cores se casam e tornam a tela da natureza e da cidade, toda em roxo e amarelo, num conluio de paz e de esperança, de morte e de vida, de liberdade e reflexão. Após essa matéria, nos sentimos como crianças e as cores tomam conta de nosso cérebro. Há roxo e amarelo em nosso pensamento e o império se solidifica na nossa alma. Elisabeth Maria de Souza Camilo Mestranda em Letras - Estudante de Jornalismo - Bacharel em tradução UFOP

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