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Serviço de correios já existia em Vila Rica há 300 anos

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Por Tino Ansaloni Publicado em 30/07/2012, 13:48 - Atualizado em 30/07/2012, 13:59
Leia entrevista com Historiadora que comprovou existência do Serviço Régio do Correio na antiga Vila Rica Maria da Graça Menezes Mourão é gestora cultural, historiadora e pesquisadora do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Em Ouro Preto, ela mantém o Empório da História – Escritório de Serviços Culturais. Nas suas pesquisas, Maria da Graça Mourão chegou a documentos que comprovam a instituição do Serviço Régio do Correio na antiga Vila Rica em julho de 2012, há trezentos anos, portanto. No próximo dia 10 de agosto, sexta-feira, a partir das 19 horas e 30 minutos, convidada pela Academia Ouro-Pretana de Letras, ela fará uma palestra no auditório do Anexo do Museu da Inconfidência, sobre os trezentos anos do Correio em Minas Gerais. Aqui está uma pequena entrevista sobre o tema, que a pesquisadora concedeu ao historiador Carlos Versiani, um dos diretores da Academia. Academia - Como a Senhora chegou aos documentos que comprovam a existência do Correio em Minas Gerais e em Vila Rica há 300 anos, algo que a própria agência nacional dos correios do Brasil desconhecia? Maria da Graça - A pesquisa é uma tarefa incansável, mas nos trás compensações como esta. É comum encontrarmos informações inesperadas. A documentação sobre as Minas setecentistas está espalhada não só em Minas e Portugal, como também em arquivos de outros estados, referentes ao tempo das capitanias. A ata da Câmara de Vila Rica, que instituiu o Serviço Régio do Correio, como também as atas de Mariana e Sabará são citadas numa ação cível da Capitania do Rio de Janeiro, cujo processo se encontra em Portugal. Academia - Qual a importância, dentro da historiografia brasileira, que a Senhora. atribui a essa descoberta? Maria da Graça - Até então, desconhecia-se a existência, no século XVIII, de um serviço formal do correio na Capitania de Minas Gerais. A circulação das correspondências oficiais e eclesiásticas realizava-se através da administração militar da coroa, chamados serviços de postas, cuja reminiscência mais conhecida por nós é Fazenda das Carreiras. A população, em geral se utilizava dos viandantes, dos escravos de sua propriedade e, principalmente, dos tropeiros. Vindo à luz essa nova informação, através de citação da ata da Câmara de Vila Rica, de 13.07.1712, a historiografia sobre o assunto tomará outros rumos. Procuro compreender em minha pesquisa o contexto da época e o que motivou o cerceamento da comunicação, quando ocorreu a interrupção do serviço régio na “capitaniade todos os negócios”, sendo que o próprio Rei já prenunciara o volume de negócios que ali se processaria, nos termos de criação de Vila Rica, em 8 de julho de 1711: “parte principal destas Minas, aonde acode o comércio e fazendas, que dela emana para as mais capitanias [...] pois era sítio de maiores conveniências que os povos tinham achado para o comércio”. Academia - Em muitos momentos do seu artigo sobre os trezentos anos da criação do Serviço Régio do Correio em Vila Rica, a Senhora se refere à Capitania de Minas Gerais, como a “Capitania de todos os negócios”. De onde viria tal expressão, e porque seria tão necessária a existência de um correio em Minas ainda no início do século XVIII? Maria da Graça - Memorizei esta feliz expressão de Waldemar Almeida Barbosa quando ele cita “O país das Minas é, e foi sempre, a capitania de todos os negócios”, frase repetida por grandes historiadores. Penso não ser dele, porquanto a expressão trata do presente e do futuro, e o uso do termo pais já era próprio do século XVIII, quando também se usava continente ou distrito para referir-se às paragens ou sítios identificados dentro do contexto das comarcas. “Capitania de todos os negócios” equivale dizer que o comércio era diversificado e não se vivia somente da mineração; que a roça e o curral produziam e tudo se vendia, transformando-se em ouro a moeda corrente. Alguns mineravam, mas outros tinham um meio mais fácil de enriquecer. Sendo o ouro a moeda, os agricultores, pecuaristas e comerciantes se sentiam estimulados cada vez mais a diversificarem seus produtos para abastecer um mercado que era determinado pelas variações do mesmo. No entanto, anos depois do correio funcionar normalmente, ele é interrompido, sendo as cartas interceptadas. Mesmo após inúmeras solicitações de regularização do serviço, como a do Gov. D. Rodrigo de Menezes, somente em 1798 a Coroa Portuguesa extingue a concessão desse monopólio e concentra sob seu poder a comunicação postal no Brasil. Academia - A “Exposição”, de D. Rodrigo de Menezes, governador de Minas entre 1779 e 1783, solicitando a criação de um correio régio regular na capitania de Minas Gerais, estaria ligada a que contexto da conturbada relação entre metrópole e colônia, no que se refere à administração colonial? Maria da Graça - D. Rodrigo foi considerado um grande conhecedor das questões coloniais empreendendo várias viagens à Capitania para melhor entendê-la. Na opinião dele, muitas das medidas tomadas pelo Reino com relação à região mineradora eram ineficazes, porque a natureza das Minas era pouco conhecida. Em 1780 ele expõe para a Coroa Portuguesa a necessidade da criação, (melhor diria a reimplantação) dos Correios como um dos meios pelos quais se daria o desenvolvimento da região, além de servir de fonte de aumento das receitas públicas: “é tão necessário, que muitas vezes sucede perderem-se negócios importantes por não haver quem leve uma Carta, ou são obrigados os interessados neles a sacrificar-se à considerável despesa de um expresso, que vai com vagar, e risco de ser atacado por (indivíduos) malévolos, a quem convenha a demora ou perda total do negócio”. Academia - Como a Senhora vê a historiografia brasileira contemporânea sobre o período colonial? Quais as principais lacunas ainda a serem preenchidas, a seu ver, quanto à sociedade mineira setecentista? Maria da Graça - Ouvi uma frase de um grande “historiador acadêmico” que absorvi profundamente: “Existe muita historiografia paralela por aí que deve ser levada em conta”. Portanto, levamos estas em consideração, as que são fruto de incansável trabalho de pesquisa em arquivos fora do país, de leituras, de colóquios internacionais, através do que a sociedade mineira setecentista será cada vez mais será compreendida. Atualmente, com as facilidades dos arquivos digitalizados e o intercâmbio cada vez maior entre as instituições do Brasil e de Portugal (destacando a importância da história administrativa, na compreensão de como o Antigo Regime se processou onde não houve idade média, numa situação incomum ao contexto europeu), se renovarão muitas interpretações, com reflexos importantes para a história de Minas Gerais. A Academia Ouro-pretana de letras convida para a palestra 300 Anos do Correio em Minas Gerais Data: 10 de agosto Horário: 19 horas e 30 minutos Local: Auditório do Anexo do Museu da Inconfidência - Rua Antônio Pereira- Centro - Ouro Preto-MG

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