Casa de Cultura recebe exposição ‘Procissão Miserere’ do fotógrafo Ailton Fernandes, em Mariana-MG

A exposição apresenta 20 fotos de Ailton Fernandes, que capturou imagens impressionantes da procissão, bem como as vestimentas e adereços usados pelos participantes.

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Por João Paulo Silva Publicado em 17/04/2019, 11:59 - Atualizado em 04/07/2019, 23:05

Foto-O fotógrafo Ailton Fernandes e a professora emérita da UFOP e escritora, Hebe Rôla
Crédito-Samuel Senra

A Casa de Cultura de Mariana (MG), abriu, na noite desta terça-feira (16/04), a exposição “Procissão Miserere”, do fotógrafo Ailton Fernandes.  As imagens que compõem a mostra foram produzidas por meio da técnica de múltipla exposição. O efeito era muito utilizado em câmeras analógicas. Uma das atrações da Semana Santa de Mariana é a “Procissão das Almas”, manifestação cultural pagã e popular, única em Minas Gerais, que ocorre na madrugada da Sexta-feira da Paixão. Na ocasião, moradores vestem túnicas brancas e saem pelas ruas históricas arrastando correntes num percurso iluminado por velas, revivendo uma antiga lenda local.

A atmosfera da Procissão das Almas

As imagens que compõem a mostra Procissão Miserere foram produzidas por meio da técnica de múltipla exposição. O fotógrafo explica que tal “efeito” era muito utilizado em câmeras analógicas (câmeras de filme). A técnica consiste em sobrepor duas ou mais imagens no mesmo frame (quadro) ou fotograma. “Em resumo, são duas ou mais fotos mescladas em uma só”.

Apesar de utilizada anteriormente à ascensão digital, o emprego da dupla exposição não morreu, ao contrário, ainda sobrevive no universo das câmeras digitais ou DSLRs em que fotógrafos, usando câmeras modernas fazem isso propositalmente. O resultado é uma imagem bonita, onde a ideia não é mostrar uma cena nitidamente e sim mesclar vários elementos em uma “bagunça ordenada”. É possível fotografar a mesma pessoa duas vezes, uma cena em movimento, vários ângulos de um mesmo cenário e muito mais. Com a dupla (ou múltipla) exposição não existem muitas regras, é possível registrar cenas surreais ou descontraídas, movidas pela criatividade e determinação para captar o momento.

“O interessante dessa técnica é a ampliação das possibilidades de linguagem. No caso das imagens expostas, a técnica permitiu um olhar poético, misterioso, sobre a atmosfera assombrosa da Procissão das Almas”, explica o fotógrafo.

Sobre o fotógrafo

Ailton é ouro-pretano. Iniciou a carreira de fotógrafo em 2003, fascinado pelas belas paisagens da Região dos Inconfidentes. Participou de várias mostras coletivas, fez exposições individuais como a de reabertura do Museu Casa Alphonsus de Guimaraens, em 2016.

Além de fotografar, Ailton ministra cursos de fotografia para a comunidade em Mariana e Ouro Preto, no projeto Transformação Transcotta.

Procissão do Miserere ou das Almas

“Reza mais, reza mais, reza mais uma oração. Reza mais, reza mais para a alma que morreu sem confissão”. Pela tradição judaica, assumida pela Coroa Portuguesa, unida à Igreja Católica no Brasil Colônia, os membros da comunidade deveriam impedir o indivíduo de persistir no erro, aconselhando-o. Caso ele não o fizesse, deveriam denunciá-lo à autoridade eclesiástica que poderia impor-lhe penas como a de exclusão da comunidade ou de excomunhão.

Tal zelo fomentou, além da procura pela indulgência, confissão e penitência para ganhar o céu, a obrigatoriedade da declaração dos descumpridores da lei. Como efeito colateral vigoraram os atos bisbilhoteiros, dos difamadores e caluniadores.

“Por outro lado, havia a Procissão das Almas rezada pelos frades franciscanos. Em Mariana, saíam da Igreja de São Francisco, pela madrugada das sextas-feiras, alertando o povo para viver santamente, cumprir os preceitos religiosos, a fim de não passar pelo purgatório, lugar de sofrimento, e ir direto para o céu”, explica Hebe Rôla, líder da manifestação cultural.

“Tudo isso, a nosso ver, resultou na folclórica Procissão do Miserere, criada pela nossa gente, representando duas lendas marianenses”. A primeira, intitulada Procissão do Miserere ou das Almas, recolhida pelo jornalista, folclorista e professor Waldemar Moura Santos. A segunda, A Mulher do Balaio de Penas, recolhida pela pesquisadora, contadora de histórias e professora Hebe Rôla.

A procissão do Miserere conta com a participação de muitos marianenses, visitantes brasileiros e estrangeiros. Seus membros, com alvas túnicas, rostos cobertos por capuzes, percorrem a cidade, empunhando ossos, caveiras e velas, dirigidos por enorme cruz enlutada e as figuras representativas da morte bem como a da Mulher da Pena.

Um grupo de músicos da Banda União XV de Novembro acompanha o cortejo tocando a marcha fúnebre “Um Lamento”, de Aníbal Walter, contracenando com as vozes das almas, matracas, lamentos e preces.

Participe da Procissão das Almas em Mariana

Interessados e interessadas em participar da Procissão das Almas em Mariana, devem procurar a organização na Casa de Cultura, na Sexta-feira da Paixão, a partir das 11h. Os integrantes receberão as vestimentas para acompanhar o cortejo e terão a oportunidade de conhecer de perto essa bela e assombrosa manifestação da cultura popular marianense. A Casa de Cultura está localizada na Rua Frei Durão, n. 84, no centro histórico de Mariana, próximo ao Jardim.

SERVIÇO
Entrada Gratuita
Período: De 12/04 a 03/05
Telefone para agendamento de visitas e informações: (31) 3557 32 59

Realização: Movimento Renovador de Mariana – Casa de Cultura, Academia Marianense de Letras. Fotógrafo Ailton Fernandes
Apoio: Projeto Floresça Mariana – “Uma flor em cada janela, um livro em cada mão” (PROEX/UFOP).  Museu Casa Alphonsus de Guimaraens – SEC

 

Foto-Exposição "Procissão Miserere". Crédito-Samuel Senra.

Um Comentário

  1. Vera Lucia Condé 17/04/2019 em 20:39- Responder

    Dona Hebe, minha professora do coração ? Saudades

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