Até há pouco tempo, as pessoas tinham amigos. Hoje têm contato. Até há pouco tempo, as pessoas se encontravam e batiam papo. Hoje conversam por mensagens e, em muitos casos, aceleram a voz do seu “contato”, para a mensagem ficar mais rápida. Até há pouco tempo, as pessoas liam, hoje ouvem livros contados pela internet.
Isto e muito mais são mudanças que aconteceram muito rápido, o que cria uma certa dificuldade de compreensão. Mudanças fazem parte da vida e podem ser positivas, o que assusta é a rapidez com que estas mudanças estão acontecendo, sem um tempo de transição para nos prepararmos.
Em nome do crescimento tecnológico, vamos atropelando valores, perdendo a essência do que somos, nos permitindo uma valorização exagerada do científico em detrimento ao pessoal, e com isso nos perdemos de nós mesmos.
A humanidade caminha para nos tornarmos todos inteligências artificiais, deixando para trás valores que nos fazem humanos. Não se trata de rechaçar as mudanças, muito pelo contrário, mudanças para a evolução são bem-vindas e necessárias, o problema está no exagero, no descontrole e despreparo de muitos para lidarem com essa necessidade.
Muitos se utilizam do tecnológico para questões menores e que não agregam, entram em uma pressa desnecessária, e se perdem no caminho. A troco de que, por exemplo, colocar a voz do interlocutor em um modo mais rápido do que o seu natural, se quando conversamos pessoalmente isso não é possível? Por que esta pressa que não tinha como existir quando as conversas eram só presenciais ou pelo “antigo” aparelho telefônico?
Não se conversa mais, se fala e se ouve, o que é muito diferente de conversar. Quantas vezes ouvimos sem escutar! Quantas vezes alguém ao lado está falando e o outro está com os olhos grudados no celular, ou interrompe o que está dizendo ao ouvir o sinal de uma mensagem chegando pelo WhatsApp. Pior: às vezes, a própria pessoa se interrompe, deixa uma frase pela metade para atender a um sinal eletrônico. O interlocutor, que está à sua frente, deixa de ter importância pelo que está não se sabe onde.
Contato não é necessariamente amigo, o amigo, sim, pode ser contato. A pressa pode destruir uma relação saudável, enquanto mil outras continuam, através de uma tela, às vezes sem sequer um rosto, identificadas por um avatar ou imagem. Isto não é progresso.
Não se trata de renegar as mudanças que ajudam a evolução da espécie, trata-se de não se destruir a espécie em nome desta evolução. Que o aparato tecnológico que acessamos diariamente não nos transforme em mais uma de suas peças.
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